Questão 45 item 1 - (História do Brasil - 1a Fase - CACD 2024). Com a indicação, pelo presidente Washington Luís,

Enunciado:

Em relação às duas primeiras décadas do século XX, bem como ao processo que levou Getúlio Vargas à Presidência do Brasil em 1930, julgue (C ou E) os itens a seguir:

Texto do item:

Com a indicação, pelo presidente Washington Luís, de Júlio Prestes como seu sucessor, a eleição de 1930 marcou o rompimento da política dos governadores.

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Resposta: Certa.

A indicação de Júlio Prestes pelo presidente Washington Luís como seu sucessor realmente marcou o rompimento da "política dos governadores" ou "política do café com leite". Essa política era um acordo tácito durante a Primeira República (1889-1930) no Brasil, no qual a presidência da República deveria alternar-se entre políticos das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, os estados mais poderosos economicamente na época. São Paulo era o maior produtor de café, enquanto Minas Gerais se destacava na produção de leite e seus derivados, daí o termo "café com leite".

Em 1930, após o fim do mandato de Washington Luís, que era paulista, esperava-se que um político mineiro fosse o próximo presidente, seguindo a alternância estabelecida. No entanto, Washington Luís rompeu esse acordo ao apoiar e indicar outro paulista, Júlio Prestes, como seu sucessor nas eleições presidenciais daquele ano. Essa decisão ignorou as expectativas mineiras e desconsiderou a tradição política vigente, causando insatisfação e ressentimento entre as elites de Minas Gerais.

Como reação, o governador de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, articulou uma aliança com outras lideranças insatisfeitas, especialmente do Rio Grande do Sul, cujo governador era Getúlio Vargas, e da Paraíba, governada por João Pessoa. Essa união resultou na formação da Aliança Liberal, que lançou a candidatura de Getúlio Vargas à presidência e de João Pessoa à vice-presidência.

Portanto, a ação de Washington Luís ao indicar Júlio Prestes quebrou a "política dos governadores", pois desfez o pacto de alternância no poder entre São Paulo e Minas Gerais, levando a uma cisão nas elites políticas dominantes. Essa ruptura foi um dos principais fatores que desencadearam a Revolução de 1930, culminando com a deposição de Washington Luís e a ascensão de Getúlio Vargas à presidência do Brasil.

Embasamento conceitual:

  • Política dos Governadores/Política do Café com Leite: Sistema político da Primeira República caracterizado pela alternância presidencial entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais.
  • Washington Luís: Presidente paulista que deveria apoiar um sucessor mineiro, mas indicou outro paulista, Júlio Prestes, rompendo o acordo.
  • Júlio Prestes: Governador de São Paulo indicado por Washington Luís, representando a continuidade do poder paulista.
  • Aliança Liberal: Coligação formada por Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba em oposição à candidatura de Júlio Prestes, lançando Getúlio Vargas como candidato.
  • Revolução de 1930: Movimentação político-militar que resultou na deposição de Washington Luís e na ascensão de Getúlio Vargas ao poder.

Assim, a eleição de 1930, com a indicação de Júlio Prestes por Washington Luís, marcou efetivamente o rompimento da política dos governadores.


Comentário automático feito pela inteligência artificial do Clipping.ai apenas para referência. Comentários dos nossos professores virão a seguir.

Acredito que a Política dos Governadores seja distinta da Política do Café com Leite. A primeira consiste no acordo entre governo federal e governos estatuais através do qual garantia-se a manutenção da situação no poder estadual contanto que as bancadas eleitas ao Congresso fossem fiéis ao presidente. A segunda, por sua vez, trata da alternância MG-SP no executivo nacional. Cabe recurso.

1 curtida

Exato. A revolução de 30, com a ascensão de Vargas ao poder, é que pôs fim à política dos governadores.

Yedda Linhares, Boris Fausto e Carlos Ungaretti discordam do gabarito em suas obras.

São vários pontos a serem destacados, mas acho importante falar já de cara que a indicação de Júlio Prestes como seu sucesso não ocorreu em 1930 - ano da eleição - mas em 1929

Para Carlos Alberto Ungaretti Dias, a política dos governadores foi rompida apenas na revolução de 30.

[…] A “política dos governadores” é considerada a última etapa da montagem do sistema
oligárquico ou liberalismo oligárquico, que permitiu, de forma duradoura, o controle do
poder central pela oligarquia cafeeira. Esse domínio se manifestou na hegemonia política
dos estados de São Paulo e Minas Gerais na indicação dos presidentes da República, a
chamada “política do café-com-leite”, que vigorou até a Revolução de 1930. […]

Já para Maria Yedda Linhares (História Geral do Brasil, 10ª edição), o rompimento da política dos governadores se dá em outro momento, que não esse de 1930. Ela diz, nas palavras dela, que se trata de um processo e que o momento de real ruptura seria aquele de 1929 que é quando se pode falar desse rompimento da aliança oligárquica.

[…] As rebeliões tenentistas da década foram o mais cabal exemplo da eclosão simultânea de questionamentos ‘de dentro’ e ‘de fora’ do pacto político, alastrando-se a rebeldia desse setor intermediário da oficialidade militar justamente quando, em 1922, as oligarquias do Rio Grande do Sul, da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro uniram-se contra a candidatura do eixo Minas/São Paulo formando a Reação Republicana.[…] No interregno, o sistema político manter-se-ia em equilíbrio instável, acumulando as contradições que somente seriam superadas à custa de sua própria negação, em torno da crise de 1929. […]

[…]As eleições preparadas de 1929 foram o termômetro imediato da rearticulação das forças políticas e sociais nessa conjuntura, marcada por nova cisão oligárquica que, além de agrupar frações dominantes em uma frente regional conhecida como Aliança Liberal […] De sua derrota pela via eleitoral resultaria o recurso às armas. […] fonte: História Geral do Brasil, 10ª edição

Assim como Ungaretti, a autora também destaca que o próprio golpe de 1930 pode ser considerado como o deslocamento da tradicional oligarquia paulista do epicentro do poder.

[…] O golpe de outubro de 1930 resultou no deslocamento da tradicional
oligarquia paulista do epicentro do poder, enquanto que os demais setores
sociais a ele articulados e vitoriosos não tiveram condições, individualmente,
nem de legitimar o novo regime, nem tampouco de solucionar a crise
econômica. […] fonte: História Geral do Brasil, 10ª edição

Já para Boris Fausto, na obra História do Brasil, o autor também argumenta que houve uma ruptura da aliança já em 1929 e não em 1930, isso porque o autor argumenta que essa indicação de Júlio Prestes como seu sucesso não ocorreu em 1930 - ano da eleição - mas em 1929, o ano anterior.

[…] A articulação de uyma canditadura de oposição partiu do governador de Minas - Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Para lançar o Rio Grande em uma contenda que representaria uma ruptura na acomodação com o governo federal e a perda das vantagens que isso significava, era preciso oferecer aos gaúchos a própria presidência. Em meados de 1929, após várias conversações, as oposições lançaram as candidaturas de Getúlio Vargas à presidência e de João Pessoa à vice-presidência. João Pessoa era sobrihnho de Epitácio Pessoa e governador da Paraíba. Formaram, ao mesmo tempo, a Aliança Liberal, em nome da qual seria feita a campanha. Getúlio recebeu o apoio dos democráticos de São Paulo, enquanto em Minas uma cisão do PRM apoiou Júlio Prestes. […]

1 curtida

Só para colocar minhoquinhas na cabeça:

Acredito que José Murilo de Carvalho, na obra “Cidadania no Brasil: O longo caminho” possui uma interpretação favorável ao gabarito. O historiador afirma que o rompimento se deu em 1930, com a eleição. JCM diz que a ruptura da Política do Café com Leite entre MG-SP por meio da insistência de SP em manter a indicação do candidato durante a eleição (ou seja, 1930), também ocasionou, por consequência direta, a ruptura definitiva da política oligárquica dos governadores.

Ou seja, não há uma confusão entre a Política dos Governadores e a Política do Café com Leite; ocorre, entretanto, que a ruptura desta teria sido a causa última da ruptura daquela.