Enunciado:
Cannes – 31 de maio – 1952
Em abril de 1952, embarquei numa aventura singular: fui a Moscou e a outros lugares medonhos, além da Cortina de Ferro, expostos ao vigor de uma civilização cristã e ocidental.
Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer a um homem sedentário, acostumado a ônibus e à rotina.
Absurdamente viajei — e o movimento era indispensável.
Faltavam-me recursos, mas minha experiência dizia que não me deixariam sair do Brasil.
Disse isso com franqueza, mas não estava disposto a tentar: abandonei a toca ainda vivo.
Recusei, pois o convite era uma divagação insensata.
Tudo aquilo era impossível.
Mas as circunstâncias me forçaram a agir, apesar das dificuldades.
Vi-me cercado por malas, papéis, filhos, sapatos, e subi nos sapatos dos meus filhos para continuar.
Após caminhar sobre terras distantes, resolvi não odiar os aparelhos — apesar de sua presença hostil.
Em Porto Alegre, viajei de automóvel.
Tenho horror a casas desconhecidas.
Falo mal duas línguas estrangeiras.
Decidi não viajar, mas me vi num método não convencional, amarrado, obediente ao letreiro da cabine.
A respeito do texto precedente e de seus aspectos linguísticos e literários, julgue os itens a seguir.
Texto do item:
Em “fui a Moscou e a outros lugares medonhos” (primeiro período), a dimensão semântica do adjetivo “medonhos” alcança, no texto, um sentido específico: o de causar medo.
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Gabarito sugerido: C
O adjetivo “medonhos” deriva de “medo” e, nos dicionários de língua portuguesa, significa “que causa medo, pavor, assombro; assustador”. Ao qualificar “lugares” nessa passagem, o narrador ressalta justamente o caráter temeroso desses destinos além da Cortina de Ferro. Logo, a dimensão semântica do termo no trecho é, de fato, a de provocar medo, confirmando a assertiva como correta.
Comentário automático feito pela inteligência artificial do Clipping.ai apenas para referência. Comentários dos nossos professores virão a seguir.
Item Errado. Graciliano Ramos era militante do Partido Comunista; logo, no texto, “medonhos” refere a algo grandioso (aos lugares além da Cortina de Ferro, que possuíam um sistema político que ele admirava). Vejam que o autor chama de “aventura singular”.
É… eu achei esse item complexo. Eu marquei errado também, mas acho que fui influenciado pelo fato de saber que ele era comunista. Analisando o texto friamente, vejo que dá para defender que o sentido é denotativo, embora também me pareça adequado defender que ele está sendo irônico (o que me favorece, porque marquei errado).
É errado.. Graciliano usa “medonhos” em um sentido irônico, e não específico de “causar medo”. Ele fala dos países pra além da cortina de ferro como se fossem repulsivos, mas a passagem inteira é irônica, haja vista a afirmação positiva a respeito do “vigor” da civilização cristã. Ele inverte a relação de valores (eufórico/disfórico) de cada atribuição. Favorecia a resposta conhecer um pouco a respeito do autor, mas, pra além disso, era possível deduzir o sentido irônico pela leitura global do texto.
3 curtidas
Eu também vi ironia, especialmente pela posição política do autor e também pelo que ele escreveu nas linhas abaixo, afirmando que a cortina de ferro havia sido construída pelo Ocidente, como se a Europa Oriental fosse algo perigoso e qie ddveria estar separada etc. Seria uma interpretação muito pobre entender o medonho de forma denotativa, levando esses fatos acima em consideração.
Ainda que fosse possível a interpretação de “causar medo”, o item restringe as possibilidades a essa única interpretação, afirmando que, no texto, o adjetivo alcança um sentido ESPECÍFICO. Portanto, o gabarito deve ser alterado para ERRADO.
como alguém consegue marcar errado nisso? Medonho sim causa medo!