(CACD 2025) item 36 - (Língua Portuguesa). Embora o texto não seja literário, sua estrutura t

Enunciado:

Há oito anos Antonio Candido nos deixou — ou pareceu deixar. No entanto, há ausências que pesam como presenças. Sua crítica continua agindo. Candido não saiu: se transformou em método, em escuta, em atenção. Em compromisso com o que o olhar falta realizar. Na sua escrita não havia medo do Brasil. Havia enfrentamento. O país das desigualdades, das injunções coloniais, da dor transformada em paisagem, esse país era objeto de sua escuta, mas também de lamento e de luta. A crítica não era retórica, era trincheira. E a literatura, longe de ser luxo, era o lugar do direito de experimentar o mundo para além do necessário. O direito ao supérfluo que nos humaniza. Contudo, sua grandeza não vinha só daquilo que dizia, mas do modo como dizia. Candido via a literatura como um fenômeno enraizado nas condições concretas da vida, mas dotado de autonomia relativa e complexidade formal. Nenhum arroto de vaidade, nenhum temor de autoridade. Só o ensaio, como forma tateante de pensar. Uma crítica que girava em torno do objeto, que o rodeava até que ele se revelasse por suas fissuras. Nada de fórmulas prontas, nenhum forma imposta como camisa de força. Apenas a disposição de escutar os textos como quem escuta um povo. Sua dialética não era ostentação, mas prática silenciosa. Estava no gesto de afetar os polos — local e universal, ordem e desordem, cultura e barbarização — não para conciliá-los, mas para mostrar que a fricção que os acossa é forma. Pensar dialeticamente, para além das recusas às falsas harmonias. Era compreender os contrários sem os anular: se atravessavam, se transformam, se impulsionam. Sua crítica era uma coreografia do conflito — um modo de pensar o Brasil sem amputar suas tensões constitutivas. Uma dialética de baixa voz, mas de alta potência. Candido não deu nem quis dar respostas. Nos deu um modo de perguntar. E é esse modo — lúcido, sereno, apaixonado — que nos falta. Não como ausência melancólica, mas como horizonte possível.

Julgue os itens seguintes, com base no texto precedente.

Texto do item:

Embora o texto não seja literário, sua estrutura textual, construída com períodos curtos e imagens contundentes, evidencia a intenção do autor em explorar a sensibilidade estética.

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Gabarito sugerido: C
O texto é um ensaio de caráter crítico, portanto não se enquadra no gênero literário ficcional; ainda assim, apresenta recursos estilísticos típicos da prosa literária. O autor emprega períodos breves (“Candido não saiu: se transformou em método, em escuta, em atenção.”) e imagens expressivas (“a crítica era trincheira”, “coreografia do conflito”, “dialética de baixa voz, mas de alta potência”) que buscam despertar a sensibilidade do leitor. Assim, a afirmação de que a estrutura evidencia a intenção estética está de acordo com o conteúdo, sendo o item considerado CERTO.


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