Enunciado:
Há oito anos Antonio Candido nos deixou — ou pareceu deixar. No entanto, há ausências que pesam como presenças. Sua crítica continua agindo. Candido não saiu: se transformou em método, em escuta, em atenção. Em compromisso com o que o olhar falta realizar. Na sua escrita não havia medo do Brasil. Havia enfrentamento. O país das desigualdades, das injunções coloniais, da dor transformada em paisagem, esse país era objeto de sua escuta, mas também de lamento e de luta. A crítica não era retórica, era trincheira. E a literatura, longe de ser luxo, era o lugar do direito de experimentar o mundo para além do necessário. O direito ao supérfluo que nos humaniza. Contudo, sua grandeza não vinha só daquilo que dizia, mas do modo como dizia. Candido via a literatura como um fenômeno enraizado nas condições concretas da vida, mas dotado de autonomia relativa e complexidade formal. Nenhum arroto de vaidade, nenhum temor de autoridade. Só o ensaio, como forma tateante de pensar. Uma crítica que girava em torno do objeto, que o rodeava até que ele se revelasse por suas fissuras. Nada de fórmulas prontas, nenhum forma imposta como camisa de força. Apenas a disposição de escutar os textos como quem escuta um povo. Sua dialética não era ostentação, mas prática silenciosa. Estava no gesto de afetar os polos — local e universal, ordem e desordem, cultura e barbarização — não para conciliá-los, mas para mostrar que a fricção que os acossa é forma. Pensar dialeticamente, para além das recusas às falsas harmonias. Era compreender os contrários sem os anular: se atravessavam, se transformam, se impulsionam. Sua crítica era uma coreografia do conflito — um modo de pensar o Brasil sem amputar suas tensões constitutivas. Uma dialética de baixa voz, mas de alta potência. Candido não deu nem quis dar respostas. Nos deu um modo de perguntar. E é esse modo — lúcido, sereno, apaixonado — que nos falta. Não como ausência melancólica, mas como horizonte possível.
Julgue os itens seguintes, com base no texto precedente.
Texto do item:
Em “Só o ensaio, como forma tateante de pensar” (décimo quinto período), o autor expõe um dos limites do trabalho crítico de Antonio Candido, ao submeter a perspectiva crítica ao objeto de análise, impossibilitava a adoção de uma fundamentação teórica sólida, o que o impedia de dar respostas claras ao leitor.
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