Questão 7 item 2 - (Português - 1a Fase - CACD 2024). Em "Criaram-me a carne" (segundo período do segund

Enunciado:

Quando os jornais anunciaram para o dia 1.° deste mês uma parede de açougueiros, a sensação que tive foi muito diversa da de todos os meus concidadãos. Vós ficastes aterrados; eu agradeci o acontecimento ao céu. Boa ocasião para converter a cidade ao vegetarianismo.

Não sei se sabem que eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei ao uso da razão e organizei o meu código de princípios, incluí nele o vegetarismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro. Era a sorte humana; foi a minha. Não importa, o homem é carnívoro.

Deus, ao contrário, é vegetariano. Para mim, a questão do paraíso terrestre explica-se clara e singelamente pelo vegetarismo. Deus criou o homem para os vegetais, e vegetais para o homem.

Enfim, chegou o dia 1.° de março; quase todos os açougues amanheceram sem carne. Chamei a família; com um discurso mostrei-lhe que a superioridade do vegetal sobre o animal era tão grande, que deviámos aproveitar a ocasião e adotar o são e fecundo princípio vegetariano.
Ervas, ervas santas, puras, em que não há sangue; todas as variedades das plantas, que não berram nem esperneiam, quando lhes tiram a vida.Convenci a todos; não tivemos almoço nem jantar, mas dois banquetes. Nos outros dias a mesma cousa.

O vegetarismo é pai dos simples. Os vegetarianos não se batem; têm horror ao sangue. Eu não me dou por apostólo único desta grande doutrina. Creio até que os temos aqui, anteriores à mim, e, - singular aproximação! - no próprio conselho municipal. Só assim explico a nota jovial que entra em alguns debates sobre assuntos graves e gravíssimos.

Machado de Assis. Carnívoros e vegetarianos. In: A Semana, 1892 (com adaptações).

No que diz respeito aos aspectos morfossintáticos e semânticos do texto V, julgue (C ou E) os seguintes itens.

Texto do item:

Em “Criaram-me a carne” (segundo período do segundo parágrafo), observa-se uma estratégia de indeterminação do sujeito que se explicitaria igualmente com a estrutura Criou-se a carne.

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Item Errado.

No trecho "Criaram-me a carne", observa-se o uso do sujeito indeterminado representado pela terceira pessoa do plural do verbo sem a menção explícita do sujeito agente. Essa estrutura é comum em português para indicar ações cujo agente não é especificado, como em "Roubaram meu carro" ou "Disseram-me a verdade". Nesse caso, "Criaram-me a carne" significa que alguém (indeterminado) me criou com carne, ou seja, fui alimentado com carne desde a infância.

A alternativa proposta, "Criou-se a carne", utiliza a partícula apassivadora "se" com o verbo na terceira pessoa do singular, sugerindo uma voz passiva sintética. No entanto, essa construção não mantém o mesmo sentido do original. "Criou-se a carne" indica que a carne foi criada, sem referência ao complemento objeto indireto "me" presente na frase original. Além disso, nessa estrutura, "a carne" assume o papel de sujeito paciente, enquanto na frase original "a carne" é objeto direto.

Portanto, a estrutura "Criou-se a carne" não explicita igualmente a indeterminação do sujeito presente em "Criaram-me a carne" e altera o sentido da frase, eliminando o objeto "me" e modificando a relação entre os elementos da oração. Assim, a afirmativa está incorreta.


Referências gramaticais:

  • Sujeito indeterminado: Na língua portuguesa, o sujeito indeterminado pode ser expresso pela terceira pessoa do plural sem referência explícita ao agente. Ex.: "Bateram à porta".

  • Partícula apassivadora "se": Usada com verbos transitivos diretos para formar a voz passiva sintética. O verbo concorda com o sujeito paciente. Ex.: "Vende-se casa".

  • Diferença semântica e sintática: A alteração de "Criaram-me a carne" para "Criou-se a carne" modifica a função sintática dos termos na oração e o sentido original, não mantendo a equivalência proposta.


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